Por Luciana Noronha
“O nosso povo Umutina é um povo guerreiro. Ele foi guerreiro no passado e hoje continua sendo, mas de uma forma diferente. Nossas armas no passado eram o arco, a flecha, era a borduna. Hoje não. Hoje as nossas armas são a caneta e o papel.” Edna, professora da aldeia Umutina
Há dez anos, começava a tomar forma a principal política pública para a formação de professores indígenas no Brasil. Em julho de 2001, a Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat) dava inicio ao seu curso de educação superior para indígenas, com a composição das três primeiras turmas de licenciatura plena nas áreas de Línguas, Artes e Literatura, Ciências Matemáticas e da Natureza e de Ciências Sociais.
O projeto Terceiro Grau Indígena, como foi chamado, já formou 276 professores até hoje. Outros 40 deverão terminar o curso em 2012. Esses alunos, vindos de 146 aldeias e pertencentes a 46 diferentes etnias indígenas, são preparados para atuar em escolas indígenas como professores de Ensino Fundamental e Médio, principalmente no Estado de Mato Grosso.
Os cursos de licenciatura da Unemat constituem o primeiro programa institucional dessa natureza implantado no Brasil, que hoje é considerado referência para outras iniciativas de formação de professores indígenas, tanto em outros estados como fora do País. Antes dele, já haviam sido desenvolvidas algumas experiências nesse sentido, como o Projeto Tucum (1995 a 1999), mas com menor abrangência e sem um vínculo tão estreito com a universidade.
A formação dos professores neste projeto compreende etapas de estudos presenciais no campus da Unemat em Barra dos Bugres (MT), a 150 km de Cuiabá, e etapas de estudos cooperados de ensino, realizados à distância. Intensiva, a fase presencial se realiza durante as férias escolares, nos meses de janeiro/fevereiro e julho/agosto; no tempo restante o professor deve exercer atividades de ensino e pesquisa em sua própria aldeia.
A proposta pedagógica deste projeto, desde o seu surgimento, está baseada na valorização da cultura indígena, por meio de um currículo intercultural, que permita uma aliança entre a educação formal e o ensino da história e dos saberes tradicionais dos índios. É prevista também a “gestão coletiva” do curso, com participação ativa dos professores indígenas em prol do seu aperfeiçoamento.
Durante os últimos dez anos, o Terceiro Grau Indígena foi continuamente debatido, ampliado e modificado. Em 2007, ele foi se transformou no Programa de Educação Superior Indígena Intercultural, Proesi (veja mais) e, dois anos depois, foi instituída a Faculdade Indígena Intercultural, sediada em Barra dos Bugres.
No entanto, a despeito do crescimento e desenvolvimento alcançados nesses dez anos de projeto, ainda existem desafios a serem vencidos para que seja alcançada de fato uma educação intercultural.
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Desdobramentos e conquistas do projeto